quinta-feira, 5 de abril de 2007

amor roxo


"por mais que procurem 1"
de benedita kendall


Francisco enxugou a face ao jornal.
Acolhera-se a casa. Sofá da pele.
A própria.
Regressara da redacção.
Jornalista de pasquim.
Só.


“Estou cansada!”


Claro! A trabalho igual, cansaço igual!

Que chatice! Cansado por cansado,
estoirava na cama. Adormeceria de lado.

De
frente. Caído por baixo. Saído de cima.
Importa?


Mas não!

Rodeado de nada, pegou no jornal.

E leu-se...

Uma fotografia nítida.

De bruços. Saias subidas.
“Morta por ciúme!”

Macabro? Não! Uma cabra!
Bastava a legenda
e o título.

"Jornalista..."
Riu-se!
"Profissão
de puta!"

Olhou a mulher. A sua?

Apetecia.
Subiu a mão quente.
Lenta.

Resposta rápida.
Fria.


“Estou cansada! Outro dia!”


Não insistiria.

Frustrado, dobrou-se.

Afagou o telecomando.
Acariciou o botão.
Zap. Publicidade.
Zap. Telenovela.
Zap. Mais de nada.
Nada de nada... não!
Um automóvel hondeado.
Uma mulher ondulada.

As coxas firmes.
As mamas cheias.


“Estou cansada!
Outro dia!
Hoje não!”


Parvo!
Porque insistia?
Escusava de ouvir
.
Disco de vinil.
Riscado.


Frustrado.
Uma vez mais.
Mais um dia, menos um dia.

Outro dia!
Nada!


Adormeceria de lado.

De costas voltadas.
Lençol fresco.
Entre coxas.
Quentes.


"Outro dia! Estou cansada!”

Claro!
Porque não?

Porque tentava tantas vezes?
Não percebera ainda que a paixão tem limites?
Que os limites são a fronteira da violação?
De quem?
De quê?


“De nada!
Não me chateies!
Estou cansada!”


Daniel Sant'Iago

11 comentários:

lena disse...

Daniel, meu querido Poeta

sem amor!

um sonho silencioso das imagens desfocadas.

"estou cansada"
de ficar aqui perdida
onde nem me posso inventar
fingir dentro de um tempo que não existe
presa ao ciclo sem fascínio
de incertezas desse navegar!

cansada?

não!

viva num corpo com sonhos...


um dos teus mais belos poemas que li Daniel,
um Poema forte, tocante e real


li e reli e não estou cansada

usei um dos teus versos, para me sentir dentro dele

abraço-te com uma grande ternura, meu amigo Poeta

beijinhos para ti

lena

as velas ardem ate ao fim disse...

Estou tão cansada.

Bjinhos para ti.

Anónimo disse...

O cansaço é o alibi de muitas acções inacabadas ou simplesmente não realizadas durante a nossa vida. Ainda bem que o cansaço não impediu o Daniel de nos brindar com este retrato do que é a nossa existência.

Maria P. disse...

O cansaço perde-se ao atingir o limite - aquele limite!

Beijo*

Moura ao Luar disse...

Também me acontece... não lhe apetecer... vou esperando, e o tempo vai passando, e como mulher sinto-me defraudada!

Anónimo disse...

Daniel... deícia litarária!

Auto-retrato! Será?

Com tanta magia, tanto feitiço, tanta doçura no que escreves/sentes...
não quero acreditar,
não quero entender!
esse doce Francisco!... tanto cansaço, tanto desamor, tanto... tanto...

Deixa a cor da agonia e continua a escreve, que não cansamos..

Daniel é verbo A M A R.

+ um

© Piedade Araújo Sol (Pity) disse...

Desejos de uma boa Páscoa cheia de saúde e boa disposição.

Micas disse...

Pior do que a morte é viver morto e sem sonhos...

Poema forte e belíssimo.

Beijo

Carla disse...

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Uma Páscoa Muito Feliz
Beijos

Nelsinho disse...

É!...

Grande abraço, Boa Páscoa!


Nelsinho

Unknown disse...

lena
Que bom... não estares cansada.

vela
Acontece...

terra à terra
Bem-vindo/a!
O cansaço também me atingirá...

maria p.
De facto... O cansaço também tem limites!

moura ao luar
Pois acontece...

princesa
Não... não é!

piedade... e nadir
Obrigado! Igualmente!

nelsinho
Será...
Grande!