Não resisti à oferta dum pêssego, fruto do teu pomar, carnudo, sumarento, rosáceo e maduro, envolto em penugem sedosa que acamei de cima a baixo e do centro para os lados.
Rodei-o nas palmas das mãos. E, juntando as unhas dos polegares - bem no alto, bem no centro, onde secara o pedúnculo - e a polpa dos dedos restantes em redor, abri-o num golpe , de par em par, em dois hemisférios por um meridiano nascido dos polegares até ao bico do fundo.
Escorreu o aroma do suco pelos dedos e nas pontas sorvi-o gota a gota, pingo a pingo. Solto o caroço, suguei-o pela língua ao céu-da-boca e volteei-o mil vezes até senti-lo duro, grosso e limpo.
Foi então que, esfomeado, sedento e guloso o devorei, pedaço a pedaço até o sabor desaparecer em perfume.
Ao caroço enterrei-o no teu pomar na esperança de que, no próximo ano, não precises de mo oferecer e eu o possa colher sem ter que to pedir.
Nem os teus nem os meus. Nem os teus nem os meus teres. Nem os nossos poderes e saberes.
Quem nos impede de romper a teia cruel o limite imposto a grade assumida, retraços entre ti e mim naquele momento infinito cela e selo duma inconfidência?
Mesmo que nos soltássemos à desfilada numa correria louca e cavalgada infindável assaltando montes montados rios e ribeiras pertos e longes sobre obstáculo de soberba
no ténue limite cruel por nós fixado chegado o tempo da decisão inadiável de sorrir juntos ou sofrer separados
tu eu sei que choras eu também e não só de madrugada lágrimas contidas em cofre-segredo para tarde ou cedo nos aplacar a sede
Acordar-te-ei pela madrugada. Que não é noite nem manhã. Só se dorme de noite. De olhos às escuras. Só se acorda de manhã para a lufa-lufa. As insónias são para as madrugadas. Numa madrugada, depois de amar, vamos ver o nascer do sol. Do alto do monte. Embrulhados num único cobertor.
Contigo não se morre de tédio. Não morrerás de tédio. Mas a sorrir.
“Espera por mim. Não me demoro. Só o tempo de deixar rolar uma única lágrima. Suspirar bem fundo uma vez. Até já?”
As palavras! As minhas palavras! Só aqui me doem. Junto de ti não preciso de sussurros. Basta olharmo-nos. Escrevemos cá dentro. Não sei bem onde. A fogo. Palavras pirogravadas em lenha seca. Aqui, basta que saiam. Que as leias. Hoje, só tu as leste. São tuas somente.
Não vamos dormir, pois não? Vamos amar toda a noite. Com descansos pelo meio. Fumar um cigarro. Beber um copo.
quero lembrar o miguel quando vestia calções jogava ao pião corria com o arco saltava num avião desenhado aos quadrados no chão
Toca a aviar!
quero lembrar o miguel quando era puto sem creches nem jardins de infância estudante-trabalhador sem salário menino de têpêcês em mochila-albarda
Toca a viar!
quero lembrar o miguel quando obedecia vai apanhar erva pr'os coelhos vai cortar as couves pr'os patos vai levar a lavadura aos porcos
Toca a aviar!
Quero lembrar o miguel quando, no dia seguinte, tremia: - Não fiz os trabalhos de casa... fui apanhar erva pr'os coelhos... cortar as couves pr'os patos... levar a lavadura aos porcos...
Toca a aviar!
quero lembrar o miguel o meu herói quando o apressavam o pai e a mãe e a professora para o trabalho de criança-estudante sem salário porque em troca davam-lhe o pão e a educação se ele não se negasse a apanhar a erva pr'os coelhos cortar as couves pr'os patos levar a lavadura aos porcos fazer os trabalhos de casa
Toca a aviar!
"Tó Caviar" era a alcunha dum colega que, entre as aulas da manhã e da tarde, almoçava uma-entrada-de-marisco-sopa-prato e à-sobremesa-um-petisco: de frutas e doces.
"long live love" niki de saint phalle Amo-te! Estive prestes a deixar só assim. Sem mais nada porque é dia santo. forma verbal pronominal sujeito sub_entendido predicado na pessoa primeira tu a pessoa atingida continente e conteúdo significante e significado foneticamente emudecida sintacticamente uma roda à dentada amo-te um tanto tão pouco um simples tão difícil um fácil tão inútil um útil tão inutilizado amo-te eu, D... tu, X...