domingo, 30 de abril de 2006
eu, abaixo-assinado, declaro...
eugenio recuenco
amo-te
estive prestes a deixar assim
sem mais nada porque é domingo
amo-te
forma verbal pronominal
sujeito (sub)entendido
predicado...
amo-te
continente e conteúdo
significante...
... roda dentada
amo-te
um tanto tão pouco
um simples...
...tão abusado
amo-te
eu, D...
tu, X...
(Este texto encontra-se publicado...
... no meu livro)
sábado, 29 de abril de 2006
... e se violenta fosse a morte das saudades...
eugenio recuenco
vivas as saudades
pois se matam
vis as saudades
que nos matam
morte violenta às saudades
desembainha o punhal
saliva-lhe...
trespassa-te
...
pela carne viva
...
gemida
mortas as saudades
resta...
sentiremos a paz
na morte violenta das saudades
(Este texto encontra-se publicado...
... no meu livro)
sexta-feira, 28 de abril de 2006
... e se o meu poder fosse um quase nada...
"the little thinghs" de april harrison
Aceitei montar o cavalo do poder.
Mas, dada a falta de arte de montar toda a sela,
convincentes foram a queda e o empurrão do dorso
pelado do animal.
E, num ápice...
agora sei que o meu poder tem a dimensão
dum grão de areia...
... em longa caminhada
o meu poder é pequena coisa
um ar...
... um quase nada
o meu poder é descalçar...
não dar o primeiro passo e
a pequena coisa
quase nada
será
agulha na engrenagem
(Este texto encontra-se publicado...
... no meu livro)
quinta-feira, 27 de abril de 2006
verso e reverso
chema madoz
... o desejo estalou num receio sofrido
cego e feio e perigoso e belo e pleno de
justificações puristas e moralistas...
... instável e insegura e complicada e
subtil despertaste...
...
chamo-te invejosa porque ciumenta
ciumenta
receias que alguém deseje e
se aposse dum bem...
invejosa
desejas apossar-te...
sentimentos distintos...
...
mas um mesmo caminho de sentido inverso
Notas
O ciúme é abstracto e masculino.
A inveja é abstracta e feminina.
Não há ciúme e inveja.
Há pessoas ciumentas e invejosas.
(Este texto encontra-se publicado...
... no meu livro)
quarta-feira, 26 de abril de 2006
pedido
eugenio recuenco
a sede do infinito em planície
gretou-me os lábios
secou-me a boca e a língua
o trilhar guloso dos carreiros
entre...
dá-me meio púcaro de barro
de vinho branco...
dá-me regaço e berço embalado
...
e se eu adormecer
acorda-me com frutos silvestres
um segredo e um beijo de teus lábios
(Este texto encontra-se publicado...
... no meu livro)
terça-feira, 25 de abril de 2006
além tejo
alentejo portugal travelguide
além tejo de hoje
searas campo verde
vermelho recanto papoilas
canto descante dolente
pausado quarto poente
(Cravo dente em carne dada,
...
... um encanto
de desnudado encantamento)
além tejo verões idos
canto....
(Requiem de Gabriel Fauré,
camerata vocal,...
... "de poenis inferni")
além tejo posse beijo...
(Atravesso a ponte sobre o Rio
Tejo, rumo a...)
Vem, meu bem, vem também!
(Este texto encontra-se publicado...
... no meu livro)
segunda-feira, 24 de abril de 2006
mais e menos
eugenio recuenco
passeio ao acaso
encontro inesperado
de soslaio um olhar mais
mais ou menos
percebi que me sentiste
senti...
menos dúvida...
menos e mais
no entanto
fugimos...
...
demais
muito mais
...
sofremos tudo
demais
por que não preferimos o menos?
(Este texto encontra-se publicado...
... no meu livro)
domingo, 23 de abril de 2006
palavra
"na ponta da língua"
livros são palavras
são-no num único gesto
uma palavra imagens mil
(Uma imagem não vale mil palavras!)
...
brincos de palavra
são hoje um jogo teu
um jogo de palavras
preciso de ti
preciso de tudo
...
preciso de muito
...
bastas tu
bastas tu toda
basta tudo
(Este texto encontra-se publicado...
... no meu livro)
sábado, 22 de abril de 2006
contradição
chema madoz
não sei
se te ame
se te esqueça
sei que te amo
mistério...
sei que te esqueço
escondida...
amo ou esqueço?
(Este texto encontra-se publicado...
... no meu livro)
sexta-feira, 21 de abril de 2006
insisto
eugenio recuenco
Já tudo foi dito sobre o amor todo.
Tudo!
Mas eu insisto (mais um que insiste...)!
...
Mas quero repetir o acto de amar
e não só mais um coito...
deixa insistir
até à exaustão
que o amor é loucura que
mata...
... desespera
sacia...
deixa insistir
até mais não
que no amor
renasço...
...deslaço
E, se...
Sabes, então, por que insisto...
Acredito que me olhas ao ler-me.
(Este texto encontra-se publicado...
... no meu livro)
quinta-feira, 20 de abril de 2006
esquecimento
nicolas de rosabon
Esqueci-me do dia dos teus anos.
Esqueci-me da prenda...
Esqueci-me da...
Esqueci-me.
E entristeci.
Não por te ver triste.
Não por me ter...
Mas...
... de ti.
(Este texto encontra-se publicado...
... no meu livro)
quarta-feira, 19 de abril de 2006
a bissectriz
o que se quer
nem sempre será o que se deve
nem sempre será o que se pode
querer
seria uma semi-recta
que partisse de um vértice
ângulo agudo recto ou obtuso
a que um lado se chamaria
dever
e ao outro
poder
não será a bissectriz de vida
porque o ângulo não se divide
em duas partes iguais nem nós
somos um simples transparente
conceito geométrico
nem por um triz
Daniel Sant'Iago
terça-feira, 18 de abril de 2006
sinais
avisos de alarme crus
pintas tintas na carne nua
círculos de trânsito triângulos
vermelhos verdes amarelos azuis
de pontuação pontos de interrogação
acenos insígnias trejeitos vestígios
sinais dos tempos
outros sinais
mas estes
são os sinais de ontem
dobre fúnebre de sinos
ao fim da tarde tristes
em campanário de aldeia
na despedida de corpo de Amiga
dolentes saudosos es pa ça dos
só dois tons de intervalo menor
repetia o primeiro mais em cima
respondia o segundo em tom baixo
assim
talim.... talim.... talão....
talim.... talim.... talão....
sons de meu tempo de menino que
agora repito ridículo sujeito a
gracejos brutescos de gente que
não sente o que eu sinto
de sino
sinais
Daniel Sant'Iago
segunda-feira, 17 de abril de 2006
passo a passo
domingo, 16 de abril de 2006
caminho no silêncio
chema madoz
na vinha herdada do avô
na encosta virada a sul
desfolhei parras à cepa
desbaguei cachos engaço
esmaguei bagos em vinho
sumo e óleo de grainhas
difícil passo seguinte
a caminho de silêncios
...
da vinha vazia de fora
infindo lugar exterior
para vazia consciência
um interior sem limite
....
e neste mito progresso
sinto regressos vários
...
valem esforços diários
de clarificar caminhos
da interioridade valor
e morrer por amar quem
(Este texto encontra-se publicado...
... no meu livro)
sábado, 15 de abril de 2006
onde o silêncio
"la vigne rouge" de van gogh
naquela encosta virada ao sul
plantou meu avô cepa estendal
de uva moscatel com bagos mil
passa em verde madurecida mel naquela encosta virada ao sul
...
naquela encosta virada ao sul
...
mora o silêncio
...
onde não pára
nada
nem tão pouco a ideia do
nada
nada de nada
anda de mão dada comigo
até à cepa de moscatel
perdi de vista
(Este texto encontra-se publicado...
... no meu livro)
sexta-feira, 14 de abril de 2006
sofrimento
in fotogigital 13
Bêbado, assassino,
incólume canino na prisão,
da puta filho e marido cabrão.
Devora-me a ânsia de vingança.
Quero-te retalhos de bisturi:
ali, torresmos a esmo...
brasas, aqui, ao lume...
cinzas negras, aí...
tragadas por cardume!
E, na tua ressurreição e do inferno,
que sejas maldito para a vida eterna !
Destino fatal?
Não há destino fatal!
Há a-bu-so-da-li-ber-da-de!
Lugar, tempo errado, coincidência?
Não-há-co-in-ci-dên-ci-as!
Por que não o teu filho mas sim o meu?
Talvez, então, percebesses que não há erro
no lugar, no tempo e na coincidência.
"Os meus pêsames..."
"Sentidas condolências..."
Não vos proíbo o falar e o choro!
Mas, para quê essas palavras surdas,
moucas, em lágrimas tão ocas?
Se eu chegar a muito velho,
quem me vai alisar as rugas,
aparar a baba,
mudar as fraldas?
Tu? Ou tu? Talvez tu?
E a ti, muito velho também,
quem te limpa o cu?
Alguém?
... estou exausto...
... dá-me um comprimido...
... quero adormecer bem fundo
e
acordar abraçado ao meu filho
porque
as saudades venceram a
vida
daniel
quinta-feira, 13 de abril de 2006
o peso dos sons
chema madoz
pesar na palavra o peso do som
será tarefa de louco internado
seja
estende a mão esquerda e segura
na palavra amor um leve esvoaçar
de fofas...
estende a mão direita e segura
na palavra amor um furacão de paixão
sobre...
Balanceia as duas mãos.
Palavras não têm peso?
...
Gosto do teu gosto,
minha loucura,
minha louca!
(Este texto encontra-se publicado...
... no meu livro)
quarta-feira, 12 de abril de 2006
ais
chema madoz
apetece-me ser deusa de tons
para uns ais palavra escrita
preciso do outro louco de ti
para jogar o jogo do tom que
a palavra escrita ai não tem
o brinquedo é ai interjeição expressão
...
primeiro o ai-de-suspiro
...
isso assim
agora o ai-de-dor
...
isso assim
por fim um ai-de prazer
...
pára pára pára páára jáá
isso assiiim ...
sim acabou o jogo do tom
fim
(Este texto encontra-se publicado...
... no meu livro)
terça-feira, 11 de abril de 2006
surpreendeste-me
eugenio recuenco
Surpreendi-te?
Causei-te surpresa...
Provoquei-te com algo inesperado...
Fui imprevisível ou desconcertante?
Apanhado em flagrante?
Não dei por isso.
Por que não o confessaste logo?
Tinha-me sido mais fácil perceber o motivo...
Bastava atar o meu acto ou palavra ou...
ao teu olhar, esgar ou sábio parecer...
A surpresa foi pão ou pedra?
Se foi pão estava fresco e quente?
Se foi pedra que seja construção.
Se for construção que seja casa.
Se for casa que seja mansão.
Surpresa só surpresa... não!
Quero lágrimas ou sorriso.
E, agora, surpreendi-te?
Daniel Sant'Iago
segunda-feira, 10 de abril de 2006
huamor
chema madoz
(Verbete para entrada no léxico impróprio
da Língua Portuguesa. Palavra nascida já
no século XXI...
Huamor. s.m. Palavra composta por
aglutinação (De humor+amor).
Comportamento...
és instrumento de sedução q.b.
sémen de humor em amor
és pitada q.b. de sal...
és dedada q.b...
és piropo...
és palavra parida...
és palavra regada...
serás palavra resistente à minha morte...
porque fruto maduro...
porque raiz...
nos silêncios da minha eterna ausência sentida
(Este texto encontra-se publicado...
... no meu livro)
domingo, 9 de abril de 2006
talvez em chinês (II)
martin roemers
Lau, filho mais novo do velho Chong,
seduzido pela fogosidade de uma das
éguas selvagens, não resistiu. Montou-a.
Primeiro a passo seguido de trote.
Breve o galope. Quis domá-la. A queda
inevitável. Lau partiu uma perna.
E os tais vizinhos, todos-todos, os mesmos...
...
fitou-os imóvel e murmurou:
- Talvez... talvez.... talvez!
Nesses tempos, a China...
...
E o velho Chong, afagando a face ao filho,
fitou-os imóvel e murmurou:
- Talvez!
Obrigado, Chan, neto de Chong e
filho de Lau, meu amigo chinês de
Macau.
Até sempre.
(Este texto encontra-se publicado...
... no meu livro)
sábado, 8 de abril de 2006
talvez em chinês
eugenio recuenco
Era muito velho o pobre Chong.
De precioso, muito precioso,
o bem mais precioso e único bem
sem preço,
possuía um cavalo, ganha-arroz
de cada dia.
Pela calada da noite, um dia...
...
manifestando a sua mais profunda
mágoa.
E o muito pobre velho Chong,
com o olhar espelho do arrozal
raso de água, fitou-os imóvel e
murmurou:
- Talvez!
. . .
E o velho Chong, menos pobre, com o olhar
espelho dum dia azul feito céu a acariciar
a garupa do cavalo e as ancas das seis
éguas selvagens, fitou-os imóvel e
murmurou:
- Talvez... talvez!
Até amanhã, meu velho amigo Chong.
(Este texto encontra-se publicado...
... no meu livro)
sexta-feira, 7 de abril de 2006
a quente
eugenio recuenco
Abraso, vermelho de sangue e raiva.
Escrevo a quente como se malhasse em ferro à boca do fole.
Mas, a palavra martelada...
...
Escrever a quente é malhar em ferro frio:
parece que dobra a preceito...
e, de repente, quebra sem jeito...
(Este texto encontra-se publicado...
... no meu livro)
quinta-feira, 6 de abril de 2006
quarta-feira, 5 de abril de 2006
ser natureza
mãe natureza
seixo rolado da ribeira do sabor
partia e desnudava pinhão torrado
em penedo duro à sombra do chorão
naquele momento encharcado de suor
eu e o meu periquito-de-ombro
acolhidos naquela teia global
debicámos sementes e frescura
numa síntese perfeita natural
não ambiente meio mas inteiro
único ser pensante
senti-me
nem rainha nem centro
total interdependência
seixo chorão ribeira penedo e pinhão
pelos lados para cima frente trás e dentro
cúmplice na salvação de todos os seres
Daniel Sant'Iago
terça-feira, 4 de abril de 2006
vai à fava
eugenio recuenco
- Fazes-me aquilo? - insistia ele.
- Não insistas! - repetia ela.
- ...
- Dá-me vómitos! Engasgo-me! - repetia ela.
- Só uma vez... - insistia ele.
...
...eram favas...
(Este texto encontra-se publicado...
... no meu livro)
segunda-feira, 3 de abril de 2006
saber esperar
domingo, 2 de abril de 2006
vestígios
chema madoz
traços de lábios em batom vermelho
retraços de palha na camisola de lã
tracejado aroma de suores e perfume
vestígios do passeio febril desta tarde
vestígios testemunhas dum amor proibido
um medo atroz que esses vestígios te
façam sofrer e se assim for vou deixar
de te ter para não mais te magoar
Daniel Sant'Iago
sábado, 1 de abril de 2006
elevador do carmo
eléctrico, in FotoDigital 13
sentaste-te
mesmo à minha frente num elevador
do carmo sorrias leve a mente sem
esforço a olhares por dentro
cruzaste
o brilho verde...
perguntaste
ao porquê do meu sorriso...
desapareceste
por entre os carros...
renasci para um novo sorriso
enlevado sentido sem resposta
nem dor definitiva
(Este texto encontra-se publicado...
... no meu livro)
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