quinta-feira, 1 de junho de 2006

mais um dia... o teu

ron mueck

queridos os frutos de paixões partilhadas

frutos do prazer paridos nas dores
amadurados frutos frutados
os frutos

os nossos frutos
de ti mãe frutos de mim pai
frutos semente para novos frutos
os filhos

os vossos frutos
de ti filho e de ti filha
frutos de açúcar e mel cobertos
os netos

daniel

14 comentários:

Anónimo disse...

Neste dia da criança, das nossas crianças, deixo-te as palavras do meu amigo Frei Betto, com um beijo:

SER CRIANÇA É UMA ARTE

[…]
O melhor da infância é o mistério. Povoa a criança com uma força imponderável, superior a todas as realidades sensíveis. O mistério seduz e, tecido em encantos, assusta ou atrai ao não mostrar o rosto nem pronunciar o próprio nome. Habita aquela zona da imaginação infantil tão indevassável quanto impronunciável. Nela, as conexões rompem limites e barreiras, o inconsciente transborda sobre o consciente, o sobrenatural confunde-se com o natural, o divino permeia o humano, o insólito, como dragões e piratas, é de uma concretude que só a cegueira dos adultos é incapaz de enxergar.

Os adultos devem manter-se à distância quando a criança se encontra mergulhada em seu universo onírico. Ela sabe que carrega em si um tesouro de percepções que os olhos alheios não podem perscrutar. Recolhida a um canto, deitada em sua cama ou brincando em companhia de seus pares, deixa fluir os seres virtuais que habitam o seu espírito e com quem estabelece um diálogo íntimo, livre das amarras do tempo e do espaço. Tudo flutua dentro dela, graças à ausência de gravidade que a caracteriza.

Se um adulto interfere, quebra-se o encanto, apaga-se a volatilidade que a transporta a um hemisfério que não cabe na lógica adulta. O real emerge com sua implacável geometria, onde as coisas carecem de estruturas flexíveis. A vida empobrece, desprovida de colorido. Tudo se torna pesadamente aritmético, como se a ave, aprisionada no chão, ficasse impedida até mesmo de sonhar com o vôo, reduzida aos movimentos contidos de seus passos.

Por tanta familiaridade com o mistério, as crianças são naturalmente religiosas, como se a natureza suprisse quem se encontra biologicamente mais próximo da fonte da vida de percepções holísticas contidas na vitalidade das células, na mecânica das moléculas, na identidade quântica dos átomos, onde matéria e energia são apenas faces de uma mesma realidade.

Privar a criança do mergulho no mistério, do ócio acalentador, do tempo em que ela nem sonha em crescer - seja pela penúria material, pelo peso esmagador da racionalidade, pelo trabalho precoce ou pelo excesso de exposição à TV, que rouba-lhe os sonhos -, é amputá-la da infância. É mutilar o ser, abortando a criança para apressar, de modo cruel, a irrupção irreversível do adulto. Ao sorriso sucede o travo amargo de quem já não logra mirar a vida como maravilha - dentro e fora de si. A insegurança aflora, denunciando carências e tornando-as vulneráveis aos sonhos químicos das drogas, já que o melhor da infância foi sonegado - sentir-se um ser amado.
______________________________________
Frei Betto é autor de "Alucinado Som de Tuba" (Ática), entre outros livros.

Unknown disse...

Nem sei que escreva...
Muito obrigado, Frei Betto e/ou "o'sanji"?
Sinto-me pequenino... por dentro.
Se pais e professores pudessem, em comum, conversar e ler e reflectir... talvez não importasse absolutamente nada impor aos pais que avaliassem os professores.
Pois é... No fundo, bem no fundo, toda a relação com a natureza, incluindo a não humana, é um acto de amor com tudo o que um acto de amor significa e simboliza.

Um beijo.
daniel

Micas disse...

O teu poema é liindooo, a fotografia trouxe à memória esse momento único e tão intimo entre mãe e filho e pai também, embora em portugal coloquem 1001 problemas para os pais assistirem ao parto, aqui só aqueles que por algum motivo preferem não assistir. Para mim foi o momento mais bonito e marcante da minha vida, é único.
Qt ao comentário do "o'sanji"?, subscrevo a tua resposta.

Um beijo

Unknown disse...

O meu texto, micas, guarda as palavras de três gerações...
E pensar que a vida corre entre a sabedoria do amor...
Sempre do antes ao depois... o amor!

Outro.
daniel

Unknown disse...

eu apenas aceno a cabeça em concoradância com todos e abro um sorriso rasgado par ti daniel, pelo teu texto com pisacdela de olho.

beijo

hala_kazam disse...

é bom saber que guardamos uma criança dentro de nos...

para sempre


*beijo*

Unknown disse...

Obrigado pelo sorriso rasgado e pela piscadela de olho, "ailéh"!
É fruto do dia...

Outro.
daniel

Unknown disse...

Muito bom, "hala_kasam", tão bom!
Vou indo de braço-dado com a espontaneidade o que, por vezes, me faz passar por cenas que nem te conto...

Outro.
daniel

Rooibos disse...

O comment que devia ser post, neste e noutros dias...
grande o'sanji!

Unknown disse...

E se eu postasse, alguém leria?
Quem aposta num post?
Vês, "o'sanji", o que fazes?
Pois é, "rooibos", há pequenos que são mesmo grandes...

daniel

Anónimo disse...

Daniel, não me faças corar!
Gosto de partilhar, quando a propósito, as pérolas do Betto, que religiosamente guardo no meu computador e tantas vezes releio. Ele é mesmo uma pessoa muito especial!
Bj para todos

Belinha disse...

Parabéns a todas as crianças do mundo! Este dia é muito especial, ajuda-nos a lembrar que as crianças não são adultos em miniatura, que têm necessidades e direitos muito próprios.

Voltando ao que escrevi no outro dia:
Hoje, temos que pensar que as crianças precisam de afecto, amor, educação, brincadeira... Precisam de crescer felizes, mas com uma mão firme a indicar-lhes os caminhos da vida.

Quanto ao poema, enterneceu-me a última estrofe... :)

Unknown disse...

"o'sanji'
Corada serás mais bonita...
Aceito de Freio Betto as tuas palavras.
Outro... o meu.
daniel

Unknown disse...

"belynha"
Obrigado pelo que me cabe.
Foi mesmo no fim que te enterni... Ainda fui a tempo!
Uff!

daniel