domingo, 30 de julho de 2006
naufrágil
rafael trelles, pintor
voga a vida
frágil nau
ara a vaga
rumo à praia
à deriva
numa volta do mar
o naufrágio
afogo
entre muralhas
flutuo
entre destroços
náufrago
abraço
tábuas em pedaços
de vaga em vaga
resto de restos
dou à praia
sem nada
com tudo
a vida
daniel
terça-feira, 25 de julho de 2006
corais
sentir morrer
e
lutar por mais vida
entrar no hospital
e
sair com mais um filho
abrir as mãos
e
abraçar as dores
beber as lágrimas
e
libertar um sorriso
sair vencido
e
recomeçar de novo
sentar na praia
e
azular no alto-mar
olhar o firmamento
e
acolher as estrelas que caem
daniel
e
lutar por mais vida
entrar no hospital
e
sair com mais um filho
abrir as mãos
e
abraçar as dores
beber as lágrimas
e
libertar um sorriso
sair vencido
e
recomeçar de novo
sentar na praia
e
azular no alto-mar
olhar o firmamento
e
acolher as estrelas que caem
daniel
quinta-feira, 20 de julho de 2006
fragmentos de cristal
quarta-feira, 19 de julho de 2006
texto feito de cinzas...
terça-feira, 18 de julho de 2006
palavra escrita
no pano cru da tela
a palavra escrita
a pressa ou o stresse
a dúvida ou a alegria
a fadiga ou a fúria
a mágoa ou a ironia
não se bordam
nem se pintam
falta-lhes
cor
tom
olhar
esgar
palavra escrita
síntese de sentires
fundo sem fundo
moribundo sem sentidos
toco
olho
escuto
para ter entendimento
sujeito predicado complemento
frase muito correcta
sem o dom de ser
Escreve "merda".
O que queres dizer?
daniel
domingo, 16 de julho de 2006
quando eu for nuvem...
sexta-feira, 14 de julho de 2006
roda de amigos
autor desconhecido
não falo de amigos nem de rodas
o amigo é pessoa e a roda uma coisa
o amigo ampara e a roda circula
o amigo é fixe e a roda desanda
não falo de gente em roda
dadas as mãos em rodopio
em canto de quem é a rosa
em giro de giroflé flé flá
falo de estar à roda
nos bancos de madeira da mesa
do pão de milho e do vinho branco
de palavras surdas e silêncios música
de lágrimas sonoras e gargalhadas mudas
falo de roda de encontro
falo de roda à dentada
falo de roda que conta
falo de roda molhada
vai uma rodada
vai outra rodada
para roda de amigos
daniel
quinta-feira, 13 de julho de 2006
lágrimas
quarta-feira, 12 de julho de 2006
nua
terça-feira, 11 de julho de 2006
alucinação
segunda-feira, 10 de julho de 2006
erros das peças de xadrez
galeria do ricardo
erro se desvio do bom caminho
erro se vagueio sem rumo certo
erro acidental ou constante
erro de direito ou de facto
erros
erro se deixo de acertar
no alvo
erro se incorro em erro
e engano
erro se ofendo ou injurio
e não me culpo
eu erro
errar
é próprio dum ser
que procura e escolhe
errante ser errado
regressa ao desvio
retoma nova rota
crível e possível
um viver de ir e vir
de opções por caminhos
supostos correctos
erros são jogos de xadrez
escolha de caminhos e saltos
o talvez de cada uma das peças
a nudez do peão ao rei e à rainha
às torres aos cavalos e aos bispos
peças de avanços e recuos
daniel
sábado, 8 de julho de 2006
mais modelos... não
ron mueck
não quero mais modelos
nem oferecidos nem vendidos
de silicone ou monstros sagrados
para quê mais modelos?
se maquetes...
eu não sou arquitecto!
se moldes...
eu não sou artista!
se partes...
eu sou um todo!
se protótipos...
eu uso de série!
se minutas...
eu tenho folhas em branco!
se fórmulas...
eu não sou advogado!
se vestidos...
eu não estou nu!
se de virtudes...
eu nem acredito neles!
se mitos...
eu sou caminhada sem fim!
mais modelos?
não!
só os que me impuseram!
só os que já escolhi!
che-gam-e-so-be-jam...
basta!
para quê mais modelos
se és única
e
obra-de-arte
daniel
sexta-feira, 7 de julho de 2006
tentação da gula
foto de laurent askienazy
sê sumo
à mão esprimido
alívio do meu corpo febril
sê doce
de uva madura
barrada em fatia
de pão de centeio do dia
sê salada
de frutos em pedaços
regada com porto vintage
ébrio licor do meu deleite
sê gelado
de banana e figo
bolas derretidas num cone
sê a mesa posta
sê a tentação da gula
daniel
quinta-feira, 6 de julho de 2006
o que vales
quarta-feira, 5 de julho de 2006
o tamanho da montanha onde nasci
terça-feira, 4 de julho de 2006
só duas palavras ou um texto em contexto
o que lês não é o texto
é o contexto
no texto
duas palavras escritas somente
baratinhas e simples
sementes
no contexto
não há imagem que te motive
Onde um amplo silêncio de um templo imenso
onde ecoasse o texto de duas palavras lidas?
no texto
não escutas som nem tom
não sentes toque nem olhar
no contexto
preciso dos teus sentidos
preciso de ti
toda
da tua boca
para que as leias alta a voz entoada
do teu ouvido
para que as escutes na tua leitura
do teu tacto
para que te entreabras e te deixes ensopar
no silêncio do tal templo imenso
da tua imaginação
para que me cries presente nos sentidos
Agora... sim!
Lê,
como te pedi,
as duas palavras que escrevi para ti...
És linda!
daniel
é o contexto
no texto
duas palavras escritas somente
baratinhas e simples
sementes
no contexto
não há imagem que te motive
Onde um amplo silêncio de um templo imenso
onde ecoasse o texto de duas palavras lidas?
no texto
não escutas som nem tom
não sentes toque nem olhar
no contexto
preciso dos teus sentidos
preciso de ti
toda
da tua boca
para que as leias alta a voz entoada
do teu ouvido
para que as escutes na tua leitura
do teu tacto
para que te entreabras e te deixes ensopar
no silêncio do tal templo imenso
da tua imaginação
para que me cries presente nos sentidos
Agora... sim!
Lê,
como te pedi,
as duas palavras que escrevi para ti...
És linda!
daniel
segunda-feira, 3 de julho de 2006
diálogo três...
foto de chema madoz
- Mãe...?
- Sim...
- Diz-se pintas?
- Sim...
- Pintor, pinturas e... pintas!
- Não! Tintas!
- Porquê?
- É assim...
- Eu trouxí tintas da escola...
- Não é "eu trouxí".. É "eu trouxe"!
- Porquê, mãe?
- Porque... porque... não sei explicar-te...
- Porquê, mãe?
- Deixa ver se consigo... Como tu as palavras
nascem e crescem e vivem... Percebeste?
- Parece que sim... É como as minhas duas fotografias?
Numa sou bebé. E nesta... aqui... tenho o dedo no nariz...
daniel
domingo, 2 de julho de 2006
anormais irregulares
foto de chema madoz
o irregular é a não regra
é a excepção à regra
é o anormal
e
o anormal não é conveniente
nem simétrico nem uniforme
é irregular
irregular ou anormal
é o pavimento ou o polígono
coisas
irregular ou anormal
é o carácter ou o comportamento
de pessoas
entre tantos anormais
também há as palavras
sofrem de anormalidade
como os verbos irregulares
- Ouves?
- Ouvo!
- Não é ouvo. É oiço! Ouviste?
- Oici!
normal será toda a mente flexível
sensível às regras e às excepções
mente anormal é excepção à regra
é logica e normalmente anormal
é um normal animal irracional
daniel
sábado, 1 de julho de 2006
o aeroporto e o feitiço
Que feitiço invade um aeroporto à chegada e à partida?
Que feitiço afoga saudades e veste desejos?
Que feitiço acama lágrimas sob sorrisos?
Que feitiço finge nas lágrimas alívio ?
Que feitiço molha os beijos?
Que feitiço no aeroporto?
Que feitiço?
O aeroporto não vive sem gente!
As pessoas são o feitiço!
Tu e eu,
esta manhã,
eram cinco...
daniel
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