quinta-feira, 30 de agosto de 2007
sons com peso
"shaky balance" de paul klee
pesar na palavra o peso do som
será tarefa de louco internado
seja
estende a mão esquerda
e segura na palavra amor
um leve esvoaçar de fofas penas
de colibri fiel que voa sem cessar
a dança alada duma valsa vienense
estende a mão direita
e segura na palavra amor
um furacão de paixão de lavas incandescentes
torrão rolando entre ventanias de vendavais
Balanceia as duas mãos.
As palavras não têm peso?
Que amor preferes?
Os dois?
O amor?
Gosto do teu gosto,
minha loucura,
minha louca!
Daniel Sant'Iago
segunda-feira, 27 de agosto de 2007
de gritos
larry devillas
apetece-me ser deus de tons
para uns ais
palavra escrita
preciso da outra louca de ti
para jogar o jogo do tom
que a palavra escrita ai não tem
o brinquedo é ai
interjeição expressão
eu escrevo ai
e tu doas-lhe a entoação
primeiro o ai-de-suspiro
inspira bem fundo
aguenta um pouco
expira um único ai
com força
com mais aaaa que i
isso assim
agora o ai-de-dor
repetido tantas vezes quanta a dor sofrida
breve
embrulhado em esgar
franzido e molhado
isso assim
por fim um ai-de prazer
insiste
insiste
em movimento
ritmado e batido
cada vez mais rápido
cada vez mais
mais ainda
mais
gutural-e-grunhido
isso assim
isso assim
isso assim
isso assiim
pára
pára
pára
páára jáá
isso
assiiim
de mansinho
sim
acabou o jogo do tom
fim
Daniel Sant'Iago
quinta-feira, 23 de agosto de 2007
surpreendi-te
"surprise" de diana ong
causei-te surpresa
provoquei-te com algo inesperado
fui imprevisível ou desconcertante?
apanhado em flagrante?
Não dei por isso!
por que não o confessaste logo?
tinha-me sido mais fácil perceber o motivo
bastava atar o meu acto ou palavra
ao teu olhar
ao teu esgar
ao teu sábio parecer
A surpresa foi pão ou pedra?
se foi pão estava fresco e quente?
se foi pedra que seja construção
se for construção que seja casa
se for casa que seja mansão
Surpresa por surpresa... não!
Quero lágrimas ou sorrisos.
E, agora, surpreendi-te?
Daniel Sant'Iago
causei-te surpresa
provoquei-te com algo inesperado
fui imprevisível ou desconcertante?
apanhado em flagrante?
Não dei por isso!
por que não o confessaste logo?
tinha-me sido mais fácil perceber o motivo
bastava atar o meu acto ou palavra
ao teu olhar
ao teu esgar
ao teu sábio parecer
A surpresa foi pão ou pedra?
se foi pão estava fresco e quente?
se foi pedra que seja construção
se for construção que seja casa
se for casa que seja mansão
Surpresa por surpresa... não!
Quero lágrimas ou sorrisos.
E, agora, surpreendi-te?
Daniel Sant'Iago
segunda-feira, 20 de agosto de 2007
ser natureza
"nature in harmony" de bonnie kwan huo
seixo rolado da ribeira do sabor
partia e desnudava pinhão torrado
em penedo duro à sombra do chorão
naquele momento encharcado de suor
eu e o meu periquito-de-ombro
acolhidos naquela teia global
debicámos sementes e frescura
numa síntese perfeita natural
não ambiente meio mas inteiro
único ser pensante
senti-me
nem rei nem centro
total interdependência
seixo chorão ribeira penedo e pinhão
pelos lados para cima frente trás e dentro
cúmplice na salvação de todos os seres
Daniel Sant'Iago
sexta-feira, 17 de agosto de 2007
huamor
karen tribett
(Verbete para entrada no léxico impróprio
da Língua Portuguesa. Palavra nascida já
no século XXI, a 10 de Abril de 2006, às
11 horas e 30 minutos.)
Huamor. s.m. Palavra composta por
aglutinação (De humor+amor).
Comportamento ou modo de amar
que provoca agrado, alegria, sorriso,
riso e te_n_são em quem ama e é amado.
és instrumento de sedução
sémen q.b.de humor em amor
és pitada de sal q.b.
sabor apropriado a insonsos
és dedada de pimenta q.b.
picante afrodisíaco para impotentes
és piropo q.b. de vão-de-escada
rubor de fogo útil em faces pálidas
és palavra parida no silêncio interior
és palavra regada no terriço dos dias
serás palavra resistente à minha morte
sempre
porque fruto maduro do amor com humor devorado
porque raiz de sorrisos
de risos
de gargalhadas
nos silêncios da minha eterna ausência sentida
Daniel Sant'Iago
terça-feira, 14 de agosto de 2007
saber esperar
sábado, 11 de agosto de 2007
e_lev_a_dor
"judith" de gustav klimt
sentaste-te
mesmo à minha frente
num elevador de lisboa
sorriste
leve a mente sem esforço
a olhares por dentro
cruzaste
o brilho verde
sem sombras de engate
insistente nos meus olhos dormentes
vermelhos num sorriso obrigado
perguntaste
ao porquê do teu sorriso
se o amarelo do olhar de dor vermelha
era sentido e definitivo
desapareceste
por entre carros e sinais
de semáforos intermitentes
no cimo do nosso elevador
em lisboa
renasci
para um novo sorriso
em_levado
sentido
sem resposta
nem dor definitiva
Daniel Sant'Iago
quarta-feira, 8 de agosto de 2007
talvez... em chinês IV
"terra cotta warriors",
xian - china
Nesses tempos, a China vivia em guerra.
Os funcionários do governo percorriam
os campos e recrutavam mancebos para
os exércitos.
Mas, o filho do camponês não foi levado
porque a perna estava partida.
E os mesmos, todos-todos, os tais vizinhos
rodearam o velho manifestando-lhe a sua mais
profunda alegria.
E o velho Chong, afagando a face ao filho,
fitou-os imóvel e murmurou:
- Talvez!
Obrigado, Chan, neto de um Chong e filho de um Lau,
meu amigo chinês de Macau.
Daniel Sant'Iago
domingo, 5 de agosto de 2007
talvez... em chinês III
"china, ou-long"
Lau, filho mais novo do velho Chong, seduzido pela
fogosidade de uma das éguas selvagens, não resistiu. Montou-a.
Primeiro a passo. Seguido de trote. Breve o galope.
Quis domá-la. A queda foi inevitável. E Lau partiu uma perna.
E os tais vizinhos, todos-todos, os mesmos,
rodearam-no manifestando a sua mais profunda mágoa.
E o velho Chong, com a água do arrozal no olhar,
fitou-os imóvel e murmurou:
- Talvez... talvez.... talvez!
Daniel Sant'Iago
quinta-feira, 2 de agosto de 2007
talvez... em chinês II
"moutains in the west garden, china"
yongsun huang
No dia seguinte, o cavalo regressou garanhão,
liberto do feitiço da montanha, amancebado
com seis éguas selvagens.
E os vizinhos do camponês rodearam-no,
todos-todos, os mesmos, manifestando
a sua mais profunda alegria.
E o velho Chong, menos pobre, com o olhar
espelho dum dia azul feito céu, a acariciar
a garupa do cavalo e as ancas das seis éguas
selvagens, fitou-os imóvel e murmurou:
- Talvez... talvez!
Daniel Sant'Iago
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