sexta-feira, 30 de junho de 2006

monstros


foto de moritz maya

nem ser nem gente
desumano e aberração
gelatinoso e disforme
monstro abjecto

ser e gente
artista renomado
mito intocável
isento de críticas
monstro sagrado

coisa ou pessoa
abjecto ou sagrado
sempre um monstro

daniel

quinta-feira, 29 de junho de 2006

Palavra, meu amor!


foto de eugenio recuenco

Palavra, minha querida!

Recordas-te de quando te escutei pela primeira vez?
Senta-te nos meus joelhos...
Foi no ventre da minha mãe quando me notou um
ser-muito-dela e me chamou meu amor!
Como esperneei e a abracei!

Que alegria escutar-te na voz e nas mãos
da minha feiticeira na festinha acariciada
na sua pele e na minha cabeça!

Garanto-te que te senti assim... pela primeira vez!

Minha querida palavra!

E nunca mais me abandonaste!
Nunca... jamais!
Se rouco...
... chamava-te olhar ou gesto.
Se cego...
... escutava-te em sons e tons.
Se surdo...
... contemplava-te por dentro.
Se paixão...
... aparecias sedutora e provocante toda
vestida de negro sobre-salto alto-fino decote
generoso de alças preguiçosas descaídas sob longos
cabelos verdes com o azul no olhar...

Se apressado ou lento...
Se obsceno ou contido...
Se triste ou alegre...
Se irado ou dorido...
Se... e se... e se... e...
...doavas-te em dádiva doçura.

Querida palavra minha!

Pertinho do meu último ai...
... já... logo... amanhã... mais tarde... quando for...
...segreda-me num sussurro murmurado...

Daniel, meu amor!
Sou o alfa e o omega da tua vida!
Sou a Palavra, a tua eternidade!

daniel

quarta-feira, 28 de junho de 2006

... três pontos... só três...


foto de sophie broadbridge

são
mudas palavras contidas
sinais repetidos
sem espaços

são
pausa em melodia sem pauta
interrupção e hesitação
suspensão para surpresas
tuas dúvidas e timidez
pastos para as palavras
aguilhões da tua imaginação

são
só três
só três pontos
escritos duma vez
sinal de essências
sinal com pontos
sinal de pontuação
as reticências

se soubesses o que eu quero...
se soubesses o que eu quero escrever...
dizias-me o que são estes três pontos...
dizias-me que palavras deveriam ser...

três...tão pouco...
três pontos...
tanto para escrever...
tanto num quase nada...

daniel

terça-feira, 27 de junho de 2006

quando te contemplo...


foto de claúdio lopes

se te observo
sinto-me servo duma obsessão
laçar abraço nos teus braços
atracção pelo belo palpável
côdea de pão escasso

se te comtemplo

sou contigo templo e oração
num terno silêncio interno
limbo de inverno inferno
pão de forno de lenha

tão bela se te observo
tão meiga se te contemplo

daniel

segunda-feira, 26 de junho de 2006

Um olhar com as mãos...


foto jean perie

venda negra vedou-me a luz da tarde
fez-se noite mais escura que o breu

olha-me com as mãos

só roupão de linho
longos cabelos seda
olhos de sumaúma
ar fresco ar quente ar de narinas
grossos lábios em gozo de sumo

dedos que riscam cotornos
dedos que ondulam em dunas
dedos que derrubam pinos firmes

mãos que traçam curvas de frutos
mãos que sulcam leiras de arados
mãos que travam em atalhos ocultos

deixa
agora eu
minhas mãos guiam teus dedos

e como os meus dedos olharam
o
que jamais meus olhos viram

lagos de neve
tremuras de terra
vulcão em convulsão
tempo indefinido a espaços repetido
lavas renovadas
tremores de serra
lassidão de mares e marés

e no escuro breu
dedos entre laços
entrei em contemplação

daniel

domingo, 25 de junho de 2006

diálogo dois...


foto de ludovic goubet

- Segura que escorre...

- O que é? Gelo?
- Sim. Uma lágrima gelada...
- Lágrima? E gelada? Estás a brincar...
- Não! Encontrei-a hoje, de manhã...
- Isso é gota gelada... leitosa!
- Será... Água salgada ou leitosa... mas lágrima!
- Onde estava? Na arca congeladora?
- Não. No nosso quarto...
- No quarto? No nosso? Brincas...
- Não brinco! Foi da noite tão frígida...
- (...)

daniel

sábado, 24 de junho de 2006

olhar para carta de amor


fotografia de didier-louis

roças o anil do olhar
no meu
um prado febril


eu
cravo fundo
num mundo vermelho
fornalhas de linho

tu
coras
cerejas e amoras e ginjas

do olhar que em mim beijas

eu e tu
tela única
pincel e tintas

para cores absinto
para pomares famintos

para naturezas em flor

a carta de amor
que nunca lerei

daniel

sexta-feira, 23 de junho de 2006

amor bandido...


fotografia de rob sloane

amor clandestino
de encontros marcados secretos
de minutos contados ao segundo
de dois corpos fundidos em nenhum
de murmúrios entre sussurros
de gargalhadas com sorrisos
de um quarto alugado em motel
de sujos subúrbios clandestinos
de prisão entre quatro paredes

amor bandido
do lado de fora da janela cerrada
da porta a sete trancada à chave
nem nada nem ninguém nem os mortos
tango maldito da noite de fumo e copos
um bésame mucho como si fuera la última

amor clandestino
de milagres de conto de fadas
de dois amantes agrilhoados
de pesadelos e de amor e uma cabana
privados
de ar puro das searas e ruas
condenados ao céu e ao inferno
quer acabem de vez
quer sigam em frente

amor bandido...

daniel

quinta-feira, 22 de junho de 2006

uma laranja sobre a mesa...


rolandaël

da laranja sem casca em pétalas
abertas sobre a mesa da sala
afundaste nos meus lábios
dois gomos em dois dedos
húmidos dum suco lento
e
da sobremesa sobrou
para mim
um caroço nascido entre os dois gomos
e
para ti
uma das pétalas colhida do prato
sobre a mesa da sala onde jantávamos

daniel

quarta-feira, 21 de junho de 2006

raio de luar em gota de orvalho
















o meu

raio de luar
em camas orvalhadas
diamante puro das gotas
em noites de lua cheia
pelo sol quando nova
enamorou-se por uma
gota de orvalho

a tua

daniel

terça-feira, 20 de junho de 2006

Mais poder às palavras...


fotografia de eugenio recuenco

"Público online" de ontem.
Cito:


"A leitura de palavras relacionadas com aromas
activa regiões olfactivas do cérebro.
(...)
Alho, incenso, urina, limão, suor, alfazema..."

Se bem percebi estes cientistas...
lemos "alfazema" e sentimos-lhe o aroma...
Isto é...
a semântica construída com a linguística
e o sensorial.


Novidade?

Parece-me bem que não...
Vamos experimentar?
Ora, limitemo-nos aos restantes exemplos
e recordemos o cheiro

a alho...
a incenso...
a urina...
a suor...

Não! Essa não vale!
Basta o último...

Que tal?
Deixem-me rir!

daniel

segunda-feira, 19 de junho de 2006

No encontro...


fotografia de maurício ianês

impossível
o silêncio das mãos
quando
se amarram as palavras

daniel

domingo, 18 de junho de 2006

meia-palavra basta...


fotografia de chema madoz

- Estás muito bonita, hoje!
- Como está a tua mulher?
- (...)

Para mau entendedor...


daniel

sábado, 17 de junho de 2006

o cão e as curvas à chuva


autor desconhecido

ontem sentia-me fome de cão rafeiro
bastava-me um osso em curva de lama

que anúncio foi a tua chegada
troaste faiscaste inundaste
trovões e raios e coriscos
cortinas de água opaca
sob trovoadas de luz
ó chuva

ensopada a alma
bramaste
escuta cão rafeiro
só vim lavar as curvas do monte
para que o sol nasça mesmo molhado

o sol renasceu
pressinto-o na luz do dia
embora encharcado e sumido
passeia-se
em boa hora por aí
pelas curvas sulcadas pela chuva
e enxugando as vidraças chorosas

daniel

sexta-feira, 16 de junho de 2006

A fábula do lobo esfaimado


eugenio recuenco

Era uma vez um lobo esfaimado
pela
neve que cobria, por completo,
a
serra e que o separara da loba a
quem fora sempre fiel.
Cada dia era dia de mais fome.
Até que, numa madrugada de delírio,
desceu da toca ao povoado.
Parou num galinheiro bem frequentado.
E, dentre os galináceos, escolheu uma
franga torneada, tenrinha, tentadora.
Entrou pelo buraco da rede.
E comeu-a sem a depenar.

Garantiu-me o lobo, já saciado, com
uma
pena espetada nos dentes, a um
canto dos
beiços:
- Que saborosa, Daniel, que tenrinha!
Se
não fosse a fome...
- Acredito, lobo, acredito! Foi a fome...

os lobos devem ser alimentados quando
as
ervas são neve
ou

os lobos só comem frangas quando a fome
os
separa da loba

daniel

Se te apetecer, troca o sexo ao lobo, à loba e à franga.

quinta-feira, 15 de junho de 2006

não me matem as palavras... eu morro


chema madoz

recorro aos bolsos
nada
nem o cotão nas bainhas do forro
nada de nada
do avesso nem o ar lhes resta
nem o nada mesmo

socorro-me do que sou
só palavras num caos de babel
a cama dorme com o vazio
o cavalo corre com o navio
a lógica uma batata
o beijo um biscoito
o mil feito num oito
o calendário sem data

mas se nada tenho para dar
sirvo-me das palavras que sou
mas
não me matem as palavras

eu morro


daniel

quarta-feira, 14 de junho de 2006

sintaxe de um beijo


graça (olhares)

quando partilhares comigo o sabor
de um beijo recorda-te por favor


beijar é acto de dar
e
beijar-te será acto de amar

então se
beijar-te for acto de amor


beijar será o acto

e
tu o amor

daniel

terça-feira, 13 de junho de 2006

da nódoa à seda ou o tempo da espera


autor desconhecido

Em lençol de linho do tear dos nossos dias,
gravaste uma nódoa.

Resistente ao mais poderoso dos detergentes,
restava, ainda, a
diminuta área circunscrita,
empalidecida e entranhada no tecido.

A nódoa!

Recortei com uma amolada tesoura de pontas o
rebordo da tua
nódoa. Sobrevivia a nódoa num
buraco em arco.

O buraco da nódoa!

Estampei pedaços de linho novo no buraco
deixado pelo corte da
nódoa. Sobrevivia
o arco dum buraco remendado.

Os remendos da nódoa!

Quanto tempo precisou o bicho-da-seda
para alongar os fios do
casulo! Uma
meada bastou para tecer o lenço de
seda natural
que nos descobre!
Onde os remendos, o buraco e a nódoa?


Novo o lenço e de seda natural!


daniel

segunda-feira, 12 de junho de 2006

garantiu-me a dor....


eugenio recuenco

em mim
as lágrimas movimentam-se em círculo
de dentro por fora para dentro de novo

de mim
renascem na hum(an)idade dum saco
desatam nós de angústia no estômago
afrouxam dedos em garra entranhados
enfraquecem a fúria irada das saudades
afloram renitentes à saída dos olhares
cintilam e lavam num baile mandado
transbordam salgadas pingo em gota
desaguam nos lábios áridos
dessalgam-se nas papilas
e regressam pura água
ao saco das lágrimas

a mim
garantiu-me a dor
ontem à noite
ao serão
à saída

daniel

domingo, 11 de junho de 2006

personagem entre personagens


ivo mendes

fui
personagem entre personagens
num espaço e tempo qualquer
pedaços de mim
ponto de fuga
de aluguer

fui
personagem entre personagens
vida própria e outras vidas
realidades mentidas
liberdade assumida
de marioneta

fui
personagem entre personagens
sal suado sob focos atentos
pausas ditas em melodias
sol e sonhos por cumprir
fingidor de estrelas
de água

fui
personagem entre personagens
verdade de logros com rosto
necessidade de integração
dificuldade de afirmação
de emoções

fui
personagem entre personagens
um autor de afectos
entre aplausos e bravos
um actor de carinhos
entre sorrisos e muito bem

fui actor
fui outro
foi teatro

sou o mesmo mas mais feliz

daniel

sábado, 10 de junho de 2006

e a propósito... para quê promessas se bastam...


chema madoz

para quê as promessas
de aparato e pompa de palácios em metal
se me bastam
as cabanas de madeira de pinheiro bravo
empoleiradas na falda sul das montanhas
ali e além

para quê as promessas
de jardins zoológicos de animais em jaula
se me bastam
os papagaios estrelas de guita e cana seca
embrulhados em papel de delírio e fantasia
além tão longe

para quê as promessas
de mulheres de silicone de feiras e calendário
se me bastam
a sabedoria e as garantias da raposa matreira
repara que os cachos verdes em alta parreira
só servem para ser tragados com olhos de ver
aqui ao perto

daniel

sexta-feira, 9 de junho de 2006

mais que o impossível


fred fractal

numa manhã mais que madrugada

ao sol mais vermelho
o mais
em céu azul mais algodão nas nuvens

ajoelhei
pedi mais o impossível
para mim
e
para ti
mais além do impossível
muito mais
o fruto proibido

daniel

Um doce

Tu em mim.
As tuas palavras passeando o meu corpo.

Isso... assim...
As palavras beijam, os lábios sorriem sem malícia.
As mãos tacteiam o efémero momento de um prazer: ler-te.

Tu e o texto. Aí.
Eu... aqui em mim sem pressas.
Assim...
Só (mente).

"ana"



Nota
Este um "doce" oferecido.
Transcrevo-o.
Não por mim. Por "ela"!
Chamar-se-á "Ana"... Só(mente).
Só? Só com um ene? Somente?
Será que mente?
Se a outra "Anna" ainda existisse...
assiná-lo-ia... se lhe pertencesse!
Assim...

daniel

quinta-feira, 8 de junho de 2006

texto nu e cru


samantha wolov
O

Texto nu e cru este sem leitura outra que não seja minha. Texto nu e cru que nunca pensei escrever para ser lido aí. Sem entrelinhas nem figuras de estilo nem outra solução. Para adultos com reservas que usam bolinhas vermelhas. Palavras de sentido único directas ao alvo sem rodeios.


Envolve-me docemente.
Que os teus braços sejam abraço envolvente.
Sem pressas manso com vagar devagar de-va-ga-ri-nho.
Isso. Assim.

Mão na nuca com dedos vincados que esmaguem meus lábios bem abertos contra os teus em oferta. Que as línguas se toquem, se entrelacem e deslacem nossos corpos.
Isso. Assim.

Encosta-te, enrosca-te e sente o que endurece, em mim e em ti, sob botões arrancados à força, num repente alucinado. Os lábios beijam. Os dentes mordem.
Isso. Assim.

E, chegados aos ouvidos, aflorados os lóbulos pelos recantos mais recônditos, que os lábios sussurrem, murmurem, repitam e gritem, sem receios nem temores nem medos nem terrores de que as paredes oiçam e os vizinhos estremeçam...
Isso... Assim... Em uníssono...

- Fode-me!

Isso... assim...
Nus e crus.
O texto...
Eu e
tu.


(Este texto encontra-se publicado...

... no meu livro)

quarta-feira, 7 de junho de 2006

mulher... meu mar


eugenio recuenco

sob solto roupão branco
turco sobre pele envolto
és

mar revolto
entre dunas e furnas

mergulho profundo
para punhos de areia

maresias de aragem
de preias marés vazias

água transparente
verdazul sobre corais

és mulher
és amada
és mar

daniel

terça-feira, 6 de junho de 2006

saídas de um beco sem saída

chema madoz

da fornalha
de um beco sem saída
o regresso à frescura
é possível
se

retomar
o labiríntico caminho da ida

ou

anulado
fingir-me vivo e morrer pela tortura
da fome e da sede

ou

içares-me pela corda
lançada da muralha
pela fenda de luz
que abriste

já não sinto forças
já não detenho o tempo
só me resta a ternura

ergue-me

daniel

segunda-feira, 5 de junho de 2006

diálogo um...


weetcharade

- Olha a minha mão.
- Sim...
- Que vês?
- Nada!
- Olha bem...
- (...)
- Nada de nada?
- Não tens nada na mão!
- Pele?
- Sim...

- Uma teia de linhas?
- Sim...
- Tonalidades?
- Sim...
- Quais?
- Claro e moreno escuro!
- Dedos?
- Claro!
- Quantos?
- Cinco!

- E a forma?
- Em concha...
- Movimento?
- Sim. Um dos indicadores...

- Então? Que sentes?
- Que me acolhes...
- Mais?
- Que me chamas...
- Então?
- As tuas mãos não têm. São.

daniel

domingo, 4 de junho de 2006

... e ...









ontem
em nó de água salgada
alaguei a alma

hoje
entendo
o sabor salgadio
das minhas lágrimas
e
do meu suor

e
na tua boca
e
nos teus lábios
e
a sede do mar
e
a sede de mim em ti
e
a sede de ti em mim

um nó
de água salgada
nesta manhã


daniel

sábado, 3 de junho de 2006

... o texto que ela não lerá...


eugenio recuenco

Noite morna de sábado, pelas onze e meia. Junho.
Um recanto mais iluminado dum bar de hotel. Música
calma em fundo. Retocava escritos para domingo, na
sessão de autógrafos.


- Quer atender?
- Para mim?
- Sim.
- Quem é?
- Não sei. Uma voz feminina. Quer...?
- Passe... Sim? Sim, sou eu...
- Quarto 204. Sobes?
- Mas quem é?
- Sobes?
- Subo...

Fechei a porta atrás de mim e tenteei a escuridão.

- Sou eu quem decide. Não há luz. Vem.
(...)
- Não há BI! Deita-te bem junto a mim.
(...)
- Vem!

Nessa noite, crestei-me em labaredas e brasas recônditas.
Saboreei repetidos e profundos gemidos convulsivos.
Viagem eterna de dolente e sôfrego carrossel.
Adormecemos enroscados num corpo.


Acordei. Regressei ao meu quarto... de mansinho... não fosse despertar a surpresa. Um duche frio. E um táxi até à livraria. Leitura de textos. Diálogos sobre a eventual autobiografia dos conteúdos. Que não. Que sim. Nim...

- Bom dia. O nome?
Dedicava e assinava.
- Bom dia. O nome?
- Sem nome. Conclui a dedicatória que comecei.
" Dei-me toda esta noite..."
E terminei:
"Dou-me todo neste livro. Sente!".
E assinei.
Segui-a. Pessoa entre gente. Perdi-a.

- Bom dia. O nome? Não se importa de repetir?
- Era para oferecer à minha mulher a quem...

Este será o texto que certamente não lerás...

daniel

sexta-feira, 2 de junho de 2006

... e se os lábios...


eugenio recuenco

quando
trémula voz te esvais sufocada
acaricio dedilho apalpo
e
pertenço mais entrego mais choque

nesse momento


os lábios aclamam as mãos e os dedos

desnudam as palavras mudas
e
o beijo desperta o toque

daniel

quinta-feira, 1 de junho de 2006

mais um dia... o teu

ron mueck

queridos os frutos de paixões partilhadas

frutos do prazer paridos nas dores
amadurados frutos frutados
os frutos

os nossos frutos
de ti mãe frutos de mim pai
frutos semente para novos frutos
os filhos

os vossos frutos
de ti filho e de ti filha
frutos de açúcar e mel cobertos
os netos

daniel