quinta-feira, 30 de novembro de 2006
Sons em... jogo... de palavras - I
"les amants" de rené magritte
gruda-me
madruga-me de madrugada...
...
gritarei no grude da tua gruta
grato
(Este texto encontra-se publicado...
... no meu livro)
terça-feira, 28 de novembro de 2006
do tempo
domingo, 26 de novembro de 2006
aos domingos - 26 de novembro
sexta-feira, 24 de novembro de 2006
foice eu fosse
quarta-feira, 22 de novembro de 2006
princesa de muitos mimos - V
michael wertz
Aninhado num canto da biblioteca da escola
e às aranhas com um computador, desvendava
os segredos do Word de acordo com a lição
imposta pelo Gustavo. Um dos meus loucos!
Elas e eles e aos empurrões e aos gritos:
- Setor, a Kintudê está a parir!
Venha depressa! Olhe que a matam!
Eu. O último a chegar ao alarido.
A casota. De cimento. Rosa e branca.
Eles. Uma matilha imensa de gente curiosa.
O tal berro berrado aos berros afastou-os
para um semi-círculo de cinco metros de raio.
Mais olhos que silêncio. Naquele momento.
A Kintudê lambia carinhosamente o filho.
Porquê? Quantos são? É cachorro?
Como nasceu? Toma nota para a cédula!
Abaixa! Deixa ver! Bruto! Não empurres!
Escuta o setor...
Foi assim que fui parteiro e explicador de um
acto de parir com mais de setenta assistentes.
Por pouco... muito pouco, o funeral do cachorrinho
nado-morto não teve honras de cerimónia fúnebre...
e religiosa! Os miúdos perceberam, a custo, que
cadela é cadela e pessoa é pessoa.
A custo!
A Kintudê estava de boa saúde quando o relógio
a sério, amarelo, lindo, único passou para
o pulso de uma colega professora com quem
vive desde então.
Foi uma cadela rafeira, senhora de vermelha trela
e princesa de muitos mimos.
Foi noutro Novembro, às oito horas duma manhã sonolenta.
Subia eu e a preguiça a alameda de acesso à escola quando...
daniel
terça-feira, 21 de novembro de 2006
princesa de muitos mimos - IV
michael wertz
Não é ficção este relato do dia-a-dia da Kintudê.
Acredita!
A cadelinha foi, durante o ano lectivo,
uma princesa de vermelha trela e de muitos mimos.
Acredita!
Pela manhã, a rafeira era o centro das atenções de
toda a gente, pequena e grande, na importância ou
no tamanho. Daqui um olá. Dali uma festa.
E os latidos soltavam-se como pulos...
Acredita!
Só um menino tinha o dom de ser obedecido:
o tratador de serviço, por uma semana, portador
do relógio a sério, todo amarelo, lindo, único!
Acredita!
No ritual de uma lambidela no amarelo do relógio.
Solta a corrente, trela vermelha na mão,
a Kintudê seguia-o para a sala de aula.
Atada a trela à perna duma cadeira da última fila,
não consta, até hoje, uma queixa de mau comportamento.
Acredita!
Fui parteiro e explicador dum acto de parir...
Os meus olhos viram.
Eu acreditei.
danielAcredita!
A cadelinha foi, durante o ano lectivo,
uma princesa de vermelha trela e de muitos mimos.
Acredita!
Pela manhã, a rafeira era o centro das atenções de
toda a gente, pequena e grande, na importância ou
no tamanho. Daqui um olá. Dali uma festa.
E os latidos soltavam-se como pulos...
Acredita!
Só um menino tinha o dom de ser obedecido:
o tratador de serviço, por uma semana, portador
do relógio a sério, todo amarelo, lindo, único!
Acredita!
No ritual de uma lambidela no amarelo do relógio.
Solta a corrente, trela vermelha na mão,
a Kintudê seguia-o para a sala de aula.
Atada a trela à perna duma cadeira da última fila,
não consta, até hoje, uma queixa de mau comportamento.
Acredita!
Fui parteiro e explicador dum acto de parir...
Os meus olhos viram.
Eu acreditei.
sábado, 18 de novembro de 2006
a morte
só um momento mais
entre
actos de amor
nos passos da vida
só um traço-de-união
entre
margens de rios
de dor e de saudade
também
daniel
entre
actos de amor
nos passos da vida
só um traço-de-união
entre
margens de rios
de dor e de saudade
também
daniel
sexta-feira, 17 de novembro de 2006
princesa de muitos mimos - III
michael wertz
Regressaram aos gritos... por recreios e corredores...
Alagados em sorrisos e apinhados nas palavras...
- Acordámos o veterinário...
- Dois euros e cinquenta cêntimos para as vacinas...
Na cédula da cadelinha constava um nome. "A Kintudê"!
Tal e qual. Com capa e tudo. O nome da turma... 5ºD.
E ainda... a trela de cabedal vermelho... a coleira
medicinal... a comida fina... o champô para as pulgas e carraças...
- Eu dou-lhe banho - comprometia-se a Joana. Sei como é!
Muita publicidade colorida... e um relógio a sério, lindo, todo amarelo... Mas só um!
- Trezentos e cinquenta euros para a casota de cimento, branca nas paredes e rosa nas telhas... Vem mais tarde!
Era pesada...
E alguns pais, tão loucos como o veterinário e os miúdos, acolhiam a cadelinha ao fim-de-semana ou saltavam a grade da escola para que "A Kintudê" não passasse fome nem sede nem morresse de saudades...
Passados dias, recontei os trocos sobejos.
Sobrara muito mais do que havia sido gasto...
Seriam os trocos sementes em terreno fértil?
Alguém repôs o vazio do saco de plástico vermelho...
Ai se eu vos confessasse como leveda o fermento desta "massa"...
Pela trela, arrastavam a cadelinha, princesa de muitos meninos!
daniel
quinta-feira, 16 de novembro de 2006
princesa de muitos mimos - II
michael wertz
Já na aula, de pé, armei-me em todo-poderoso.
- Abrir a lição!
- E a cadelinha?
- A brir a li ção...
- Temos dinheiro... Da venda do jornal de turma.
- ABRIR A LIÇÃO!
- E podíamos ir ao veterinário...
Com o berro... aquele ar gelado de professor cumpridor... inflexível.
- E se a cadelinha morre?
E eu convencido que, naquele momento, cadelinha... já fora!
- Ela está à espera de bebé...
Estranhamente, os cadernos diários mantinham-se aferrolhados...
- Já morreu. Cochichou a Inês.
Desisti! Dei-me por vencido! Impossível resistir à força interior dos miúdos...
Passei-lhes para a mão o saco de plástico vermelho... o nosso cofre-forte.
Distribuímos tarefas... E responsabilizei-os por tudo... Por tudo mesmo!
Desapareceram-me da vista num ápice! Todos!
À secretária, comigo e com o livro de ponto nos dedos, grudou-se-me a angústia.
- Meti-me noutra...
Os meus botões anuíram...
- E o programa? Que vou escrever no sumário? E se acontece alguma coisa a algum?
Mas... para que estás tu tão angustiado se a cadelinha já morreu?
Pois...
daniel
quarta-feira, 15 de novembro de 2006
princesa de muitos mimos - I
michael wertz
Oito horas duma manhã sonolenta.
Seria outro o Novembro.
Subia eu e a preguiça a alameda de acesso
ao edifício da escola.
De um grupo de alunos, saltaram o Fábio e o Mário,
com voz pequena e olhar amarelo:
- Setor, está ali uma cadelinha grávida... meio morta!
Levou uma bolada!
Despertei dos passos arrastados...
De facto, de patas para o ar, como quem mendiga
umas carícias na barriga, de olhos em bugalhos,
esperneando, o animal parecia não ir durar muito...
Para plantão à cadela sobraram dois dum exército
de detectives, de lupa em punho, em busca do agressor perdido...
Só encontrámos a bola...
Oito e catorze. O primeiro toque.
- Para a sala! Impus...
Assustaram-se...
daniel
segunda-feira, 13 de novembro de 2006
sótão para os teus cabelos brancos
"morning sun" de edward hopper
Reacendo o sonho.
De meu pai.
Um Tê0!
sótão para sul
Com um terraço.
Arribado sobre areia.
Brinco de uma rocha.
Areado pelo sol.
Roxo de anil.
Dois livros.
Um CD.
Luz.
Ar.
sótão para sol
para teus cabelos brancos
saciei-me numa bola de sabão
no sol de uma verde madrugada
vermelha a sul em nascente azul
de águas salgadas sobre a mareia
sótão para rua
entre os farrapos dos trapos velhos
rasgados às dentadas pelo serra da estrela
sótão para mar
Que a lua nos desperte, em quarto crescente, a nascente,
e nos adormeça, em quarto minguante, a poente.
Que o enrolar quente das ondas nos baloice, amantes.
Que a nortada refresque as tardes, suados.
Que a morte nos seduza, abraçados.
Que o canto de Fauré nos encaminhe In Paradisum. Requiem!
Que o meu serra da estrela acorde e uive, mansinho. Serenos.
o sótão para os teus cabelos brancos
Pedrinho.
Menino parido em barraca de madeira.
Cinzelado na noite negra do nascimento.
Por um raio de luar, nascido dum orifício.
Talhado por um pica-pau no contraplacado.
Ferrado nas costas da mão esquerda.
Sinal de lua em quarto crescente.
Pobre. Ferrado. Diferente.
Fui
bola de sabão
só tão para nós.
daniel
domingo, 12 de novembro de 2006
aos domingos - 12 de novembro
sexta-feira, 10 de novembro de 2006
simples mente simples
"dive in", sherry's
Daniel
Revivi com os teus últimos posts. Confirmo que te autorizei a entrares "fundo na alma da (minha) alma".
(Ainda me deslumbro com poetas. Destes. A sério!
Como Fernando Pessoa.)
E pedes-me o impossível.
"O que é ser simples? Tu sabes!".
Eu sei? Eu... que sou um complicado?
Mas... o que entendes tu por "ser simples"?
Ora... escolhe:
Modesto? (Tento...)
Não sofisticado? (Só exteriormente...)
Espontâneo? (Sim!)
Franco? (Às vezes...)
Ignorante nas simulações e fingimentos? (Assim... assim...)
Pobre? (Que remédio!)
Ingénuo? (Quase sempre...)
Sem malícia? (Quase nunca...)
Com conhecimentos rudimentares? (Há piores...)
Sem grande experiência? (Com alguma...)
Com modos despretensiosos? (Sem dúvida!)
E agora? Como descalço esta bota?
Para te ser franco... não sou simples. Pareço ser.
Por dentro... sou muito complicado! Nem calculas...
Se soubesses...
Este ar sereno, verdadeiro e humano dá muito trabalho!
É resultado de raciocínio, de sofisticação...
Simples? Assim?
Não! Muito complicado!
Simples é o ar que respiro.
Simples é a água que se bebe.
Simples é o fogo que me aquece.
Mas não os definas porque é muito complicado!
Tenho algumas vantagens.
Ser obrigado a distribuir pelos meses os euros do ordenado!
Não poder levar muito tempo a escolher roupa e calçado!
Preferir ser a ter!
Simples? Não!
Complicado!
A simplicidade para os simples! Tribo a que não pertenço.
Passei por Assis e teria por lá ficado... Com o Francisco.
Complicado... Muito complicado!
Seria simplista se simplificasse a simplicidade dos simples.
Um abraço. Simplesmente.
Pedro.
E eu que garantia, a pés juntos,
que serias muito simples...
Afinal... um complicado!
daniel
quarta-feira, 8 de novembro de 2006
dar
segunda-feira, 6 de novembro de 2006
a cor que faltava
"soir bleu" de edward hopper
Lisboa, 31 de Outubro de ...
Daniel
Ontem, ao jantar, num restaurante do Bairro Alto,
faltava-me uma cor para concluir o quadro em esboço...
Ao meu lado, na mesa, sentava-se a... Linda como sempre!
O colar sugava-me o olhar para o decote de pele firme ao abandono...
E o sorriso e os olhos. E as palavras e os lábios. E as mãos e as carícias.
Presentes de sons e cores.
Uma pauta e uma paleta. Pat Metheny e Hopper.
O pincel e o desejo.
Só me faltava o vermelho!
E os meus sentidos despertaram num acorde maior. Num hino.
E o olfacto saboreou um beijo. E o olhar demorou no aroma.
E o tacto repousou na sede.
E propus com o silêncio que me escutasse um segredo.
Senti-lhe, sob o tampo da mesa, a ternura e a tremura.
E os meus toques mudos murmuraram-lhe tons nos lábios do ouvido.
E o vermelho brotou corado. Dióspiros nas maçãs do rosto.
Zeus alimentava-se connosco.
Podia concluir o quadro. Nos tons de vermelho.
E os frutos regaram sumo entre vinhos.
Assinei a orgia.
Um abraço.
Pedro
Além de sensual, és um irreverente!
Eu... levaria um estalo.
Mas tu és diferente!
daniel
domingo, 5 de novembro de 2006
aos domingos - 5 de novembro
sexta-feira, 3 de novembro de 2006
seios
quarta-feira, 1 de novembro de 2006
paulo
"rooms by the sea" de edward hopper
Conceba-se Pedro por Paulo.
Um Silva mais.
Mas pai,
naquela noite de luar,consumido em labaredas,
entre os cantos da barraca. Fora da madeira!
De si!
Três passos de sofrimento desmedido.
Quilómetros de gritos e gemidos gelados.
Cansados!
paulo e maria
casados
pais de pedrinho
o menino diferente
ferrado
com um quarto crescente
nas costas da mão esquerda
paulo
ria as lágrimas que chorava
vestia o frio que o gelava
comia a fome que o matava
bebia a sede que o secava
espontâneo como a erva
simples como o mar
deus dum sedutor
de mulheres
que o sonhavam suado
no terraço dum T zero
seio do sul
cavaleiro da praia
sob um raio de sol sensual
com um serra da estrela adormecido ao lado
daniel
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