"por mais que procurem 1"
de benedita kendall
Francisco enxugou a face ao jornal.
Acolhera-se a casa. Sofá da pele.
A própria. Regressara da redacção.
Jornalista de pasquim.
Só.
“Estou cansada!”
Claro! A trabalho igual, cansaço igual!
Que chatice! Cansado por cansado,
estoirava na cama. Adormeceria de lado.
De frente. Caído por baixo. Saído de cima.
Importa?
Mas não!
Rodeado de nada, pegou no jornal.
E leu-se...
Uma fotografia nítida.
De bruços. Saias subidas.
“Morta por ciúme!”
Macabro? Não! Uma cabra!
Bastava a legenda e o título.
"Jornalista..."
Riu-se!
"Profissão de puta!"
Olhou a mulher. A sua?
Apetecia.
Subiu a mão quente.
Lenta.
Resposta rápida.
Fria.
“Estou cansada! Outro dia!”
Não insistiria.
Frustrado, dobrou-se.
Afagou o telecomando.
Acariciou o botão.
Zap. Publicidade.
Zap. Telenovela.
Zap. Mais de nada.
Nada de nada... não!
Um automóvel hondeado.
Uma mulher ondulada.
As coxas firmes.
As mamas cheias.
“Estou cansada!
Outro dia!
Hoje não!”
Parvo!
Porque insistia?
Escusava de ouvir.
Disco de vinil.
Riscado.
Frustrado. Uma vez mais.
Mais um dia, menos um dia.
Outro dia!
Nada!
Adormeceria de lado.
De costas voltadas.
Lençol fresco.
Entre coxas.
Quentes.
"Outro dia! Estou cansada!”
Claro!
Porque não?
Porque tentava tantas vezes?
Não percebera ainda que a paixão tem limites?
Que os limites são a fronteira da violação?
De quem?
De quê?
“De nada!
Não me chateies!
Estou cansada!”
Daniel Sant'Iago