terça-feira, 29 de janeiro de 2008

da mágoa


"old man in sorrow" de van gogh

magia de um sedutor

das minhas palavras
ao teu semblante


desgosto de vida
em recolhimento

traços de água
transparente


água de um mago

a mágoa

Daniel Sant'Iago

quinta-feira, 24 de janeiro de 2008

são lágrimas, senhora, são lágrimas


"lágrimas" de paco labiano

Tantas lágrimas...
Porque choras?
Que mal te fiz?

Diz!

Que foi que aconteceu?
Que te deu?


Tens dores?
Onde te dói?
Sofres?


Não me digas que não foi nada...

Que pranto!
Morreu alguém?


espera um pouco

Não me digas que são lágrimas de crocodilo...
Pareces uma manhã de orvalho...
Um rio de gotas essas lágrimas a fio...

espera mais um pouco
sufoquei

Brincou nervosa com a lágrima que trazia ao pescoço.
Um pingente!
Sinal presente de um-dia-de-não-sei-quê.


não te assustes
cheirei o frasco do amoníaco
falta de siso
só isso

Desdobrou-se em gargalhadas.
Chorou de riso.
Mais lágrimas.
Outras mais.

acreditaste
em lágrimas
de amoníaco

cegaste há muito
parva

Daniel Sant'Iago

segunda-feira, 21 de janeiro de 2008

comover ou como ver ou com o ver


"night moves" de migdalia arellano

comover-te

como ver-te
com o ver-te

como se comover-te
fosse

ver-te com o olhar
comer-te com os olhos

afinal
comover-te foi
pôr-me-e-te em movimento
abalar-te-e-me
e
no momento de abalar
não comer
para não te voltar a ver

Daniel Sant'Iago

quarta-feira, 16 de janeiro de 2008

sabores de beijos


"flavor" de niro vasali

no bar frente ao mar

uma bica pequena cremosa morena sem açúcar
amarga
um quadrado de chocolate quase cacau
amargo

Prova! Sorve! Saboreia!

Que tal?
O amargo é delicioso!

beijei teus lábios
amargos


na estrada para o cabo
uma azeda na berma do caminho
caule verde fino sob pétalas amarelas

azedo

duas camarinhas pérolas leitosas do mato

azedas


Prova! Sorve! Saboreia!

Que tal?
O azedo é delicioso!

beijei teus lábios
azedos


na serra nua junto ao convento
este caule mais grosso de seiva láctea
acre
doce


Prova! Sorve! Saboreia!

Que tal?
O agridoce é delicioso!

beijei teus lábios
amaros
doces


em casa
do frio em gelo

numa bolacha em cone duas bolas de sorvete de baunilha

um fio de chocolate quente derretido
um semi-frio
todo doce


Prova! Sorve! Saboreia!

Que tal?
Não é semi-frio!

É muito doce e semi-quente!

beijei teus lábios
muito

Daniel Sant'Iago

sábado, 12 de janeiro de 2008

digníssimo e meretíssimo senhor doutor juiz


"civil justice" de diana ong

Não me julgues!

Nunca!

Não me julgues pelo meu comportamento!

Não me julgues porque te dizes meu amigo!

(Como se ser-meu-amigo te desse o direito
de
me julgares e de seres justo ou injusto!)

Mesmo amigo, não conheces o meu pensamento!
A não ser que eu to diga e consiga confessar tudo!
(
É que nem eu tenho consciência de todas as reais
circunstâncias
que condicionam o meu comportamento!)

O meu comportamento não é o meu pensamento!
Estão correlacionados mas tem características diferentes.

O pensamento é o pensamento!
O comportamento é o comportamento!


(Nem me venhas com essa de que não me julgas.
Que o que julgas são os meus comportamentos.

Como se estes existissem sem mim!)

O meu comportamento não sou eu!
Nem, tão pouco, o meu pensamento!


Já to disse e repito!

Não me julgues!
Nem porque te pareço um santo.

Nem porque te pareço uma merda.


Os santos também perdem os amigos!

E a merda não é flor que se cheire!

Daniel Sant'Iago

quarta-feira, 9 de janeiro de 2008

a preto e branco


"curiosity" de jon bertelli

chorar por amor
não será amar
mas sofrer

amar seria rir
ou
pelo menos
sorrir

quando amo a preto e branco
como pinto os cinzentos?

Daniel Sant'Iago

sexta-feira, 4 de janeiro de 2008

o (teu) vulcão


"the visit of venus to vulcan"
françois boucher


(
texto um)
escalada penosa a da encosta
dum vulcão
julgado acessível
no entanto
gretei os lábios
feri as mãos
e
à beira da cratera
na atracção da chama
queimei os dedos na lava rubra
do vulcão
julgado adormecido

(
texto dois)
escalada penosa a da encosta
dum vulcão

julgado acessível

no entanto

gretei os lábios

feri as mãos

e
à beira da cratera
na atracção da chama
queimei os dedos na lava rubra
do
TEU vulcão
julgado adormecido


Daniel Sant'Iago